A Política Nacional da Pessoa Idosa completou, em janeiro, 28 anos, entre avanços e retrocessos. A avaliação é do prof. dr. Vicente Faleiros, presidente da Comissão de Políticas Públicas da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), assistente social e doutor em sociologia. “A PNI – Política Nacional do Idoso, hoje Política Nacional da Pessoa Idosa, de 1994, deu visibilidade à questão do envelhecimento no Brasil e à condição de vida e de desigualdade de milhões de pessoas com envolvimento do Estado na promoção de direitos desse segmento”, destaca.
Faleiros (foto: Divulgação), de 81 anos, ressalta que a Constituição de 1988 dispõe sobre a participação das pessoas idosas na vida social e pública e implanta a seguridade social, integrando saúde pública, previdência e assistência social. A carta magna cria o benefício para idosos e pessoas com deficiência de baixa renda, regulamentado pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), em 1993, como Benefício de Prestação Continuada (BPC). Há mais de 4,7 milhões de beneficiários no país, entre pessoas idosas e pessoas com deficiência.
A PNI, de acordo com o presidente da Comissão de Políticas Públicas da SBGG, ainda é “declaratória de direitos, mas indica responsabilidades dos ministérios e abre ação conjunta”. Promulgada em 1994, a legislação foi regulamenta em 1996, e o Conselho Nacional dos Direitos do Idoso (CNDI) previsto no texto, só foi implantado em 2002 e aperfeiçoado em 2004.
Entre os avanços da PNI, Faleiros cita a integração das políticas, da participação, da descentralização e valorização da pessoa idosa. Porém, segundo ele, “foi o Estatuto do Idoso, de 2003, que elencou direitos do segmento como dever do Estado e estabeleceu um sistema de proteção para o envelhecimento digno e o direito ao envelhecimento diverso, ativo, com cidadania e participativo”.
Para o professor, o Estatuto é “um marco fundamental da proteção à pessoa idosa, tornando obrigatória a intervenção do Estado para assegurar direitos e o envelhecimento digno, ativo e participativo”. Com a nova legislação, Estados e municípios criaram conselhos e fundos. O diferencial do Estatuto para a PNI, de acordo com Faleiros, está na “mudança de paradigma de formulação de políticas para obrigatoriedade de políticas para e com a pessoa idosa e maior sistematização da rede de proteção”.
Desafios
Mesmo com os avanços, como explica o professor “há ainda preconceitos, discriminação e violência contra a pessoa idosa”, e também falta uma política de formação de cuidadores, de cuidados e, principalmente, de atenção básica e primária, e na saúde mental para o segmento idoso.
Para Faleiros, “os maiores retrocessos aconteceram no governo Bolsonaro, com amputação da participação no CNDI, pelo Decreto 9893/19; negacionismo da vacina; redução e dificuldade a direitos na previdência; corte de verbas na assistência, e ataques aos direitos aos planos de saúde. O orçamento para o segmento é ridículo”. Ele ainda cita a Rede Nacional de Defesa e Proteção da Pessoa Idosa (Renadi), que ficou só no papel, e a V Conferência dos Direitos da Pessoa Idosa, adiada para 2021, e realizada com participação controlada.
Outro desafio é a carência de médicos geriatras. “Há avanços na residência e formação em geriatria, mas ainda é insuficiente e os planos de saúde não valorizam esse profissional. A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) tem um diploma de especialista em geriatria e também em gerontologia que estimula a titulação de profissionais. Há cursos de formação para gerontólogo e também pós-graduações”, destaca Faleiros.
Colocar o envelhecimento na pauta nas eleições deste ano também parece um sonho distante: “A política e a estratégia de serviços para a pessoa idosa como direitos ainda não entrou na agenda dos partidos e alguns políticos querem fortalecer ainda o assistencialismo como um favor para um coitado. A pessoa idosa é cidadã de direitos, merece retorno e respeito por sua contribuição à previdência e à sociedade. Portanto não é peso algum”.
Rede integrada
Para uma maior efetividade das políticas em favor da pessoa idosa, Faleiros acredita que “a rede integrada de proteção à pessoa idosa ainda está como horizonte, devendo levar em conta a desigualdade do envelhecimento, agravada pela população idosa na rua. O arcabouço de serviços progressivos precisa ser estratégia com centros de convivência, centros diurnos e noturnos, hospital dia, acompanhantes, cuidadores domiciliares. A maior longevidade traz desafios e oportunidades”.
Acredito que você já saiba o que são, e onde estão localizadas as Blue Zones. Aquelas 5 regiões do mundo em que as pessoas chegam aos 100 anos, ou mais, e com muita saúde! Entretanto, caso não saiba, apresentarei uma síntese sobre estas famosas localidades onde os seus habitantes se destacam em longevidade ativa e feliz.
Primeiramente, gostaria que soubesse que interesso-me por tudo que possa nos inspirar à construção e manutenção de nosso protagonismo sênior, razão pela qual decidi estudar as Blue Zones. Para tanto, iniciei a missão Centenarian que tem por objetivo explorar as famosas zonas azuis, tendo iniciado o estudo pela primeira região declarada Blue Zone – a Sardegna, na Itália, onde estive em outubro deste ano.
O que são e como surgiram as Blue Zones?
Blue Zones (zonas azuis) é um termo não científico dado a regiões geográficas que apresentam habitantes que atingem idades mais elevadas em comparação ao resto do mundo. São pessoas que vivem com mais de 90 e 100 anos.
O termo apareceu pela primeira no artigo do jornalista Dan Buettner, de novembro de 2005, da revista National Geographic, “The Secrets of a Long Life”.
Contudo, o conceito das Blue Zones surgiu em 2004, na ilha da Sardenha, a partir do trabalho demográfico feito pelos pesquisadoresGianni Pes e Michel Poulain, e outros cientistas, descrito no jornal Experimental Gerontology, que identificou a província de Nuoro, em Ogliastra na Sardegna, como uma região de excepcional concentração de homens centenários.
A equipe de pesquisa investigou uma peculiaridade genética de seus habitantes: o marcador M26. Constataram que este gene é ligado à longevidade excepcional dos residentes daquela ilha, um gene que permaneceu imutável nos habitantes daquele lugar. Entretanto, descobriram, também, que não só a genética dos sardos era responsável pelo alto índice de longevidade. Constataram que o estilo de vida saudável, e muito tradicional, era um fator preponderante na manutenção da saúde integral e dinamismo daquele povo.
Posteriormente outras 4 regiões foram investigadas pelos citados cientistas, e classificadas como Blue Zones. São elas ao todo: Icaria (Grécia); Ogliastra, Sardenha (Itália); Okinawa (Japão); Península de Nicoya (Costa Rica) e Loma Linda, Califórnia (EUA).
Blue Zones – Sardegna nos dias de hoje – Entrevista com o cofundador Dr. Gianni Pes
Deste modo, de posse de meus estudos prévios fui para Sardegna experimentar e saber mais sobre o viver dos centenários sardos. Para tanto, tive o privilégio de entrevistar um dos fundadores das Blue Zones, o Professor Gianni Pes, que gentilmente recebeu-me em Cagliari, capital da Sardegna, onde pudemos conversar sobre a vida atual daquela Blue Zone e outros tópicos interessantes, como você poderá constatar abaixo..
Giovanni Pes é médico e pesquisador sênior do Departamento de Medicina Clínica e Experimental da Universidade de Sassari, Sardenha, Itália. É cofundador das Blue Zones, sendo também responsável pela identificação e certificação de outras zonas azuis ao redor do mundo. Dr. Pes é expert em nutrição, dietética, diabetologia e geriatria e continua a se concentrar em fatores nutricionais e de estilo de vida associados a uma vida longa.
Silvia Triboni – Professor Gianni muito obrigado por este privilégio de poder entrevistá-lo e poder saber um pouco sobre a sua experiência, sobre o seu trabalho associado à longevidade dos habitantes da Sardegna, e sobre a criação das Blue Zones. Agradeço e peço que nos conte um pouco de sua trajetória.
Professor Gianni Pes – Muito obrigado, eu sou médico e trabalho na Universidade de Sassari, na Sardenha, na Itália. Tudo começou há quase 20 anos quando eu estudava a distribuição da mortalidade entre as pessoas daquela região e descobri que havia uma parte montanhosa central da ilha onde a mortalidade era menor do que em qualquer outro lugar. Pensei que naquela área o número de centenários deveria ser maior do que em outros lugares e, então, eu e o meu colega começamos a visitar uma a uma todas as municipalidades da Sardegna. Foi quando descobrimos muito rapidamente que havia uma concentração de centenários em seis ou sete aldeias no topo das montanhas da ilha.
Demos àquelas regiões o nome de Blue Zone porque nós tínhamos um marcador azul que usávamos todas as vezes que nós descobríamos uma região onde o número de centenários ultrapassava o que tínhamos como referência. Foi quando decidimos escrever os primeiros artigos científicos que adotamos este termo BLUE ZONE. Na época eu não imaginei que isso se tornaria tão famoso mundialmente.
Silvia Triboni – Após quase 20 anos, os descendentes das pessoas pesquisadas que naquela época tinham 60 ou 70 anos de idade, podem estar agora com 90 ou mais anos. Esses descendentes seguem a receita de seus ancestrais para uma vida longa e saudável? Como é a vida dos descendentes daqueles primeiros centenários identificados na pesquisa?
Professor Gianni Pes– Em primeiro lugar, gostaria de dizer que eu tive a sorte de estudar os centenários 20 anos atrás, e hoje em dia para que eu possa comparar de alguma forma, eu precisaria olhar para o estilo de vida deles, por exemplo, para a dieta. Acho que existem algumas diferenças entre os centenários de há 20 anos com os centenários de hoje em dia. Não sei se é o número de centenários é o mesmo ou está subindo.
Alguns colegas dizem que provavelmente a zona azul desaparecerá e isto é muito triste para mim.Espero que estejam errados. Mas, de acordo com alguns colegas, existem indicações de que a força da longevidade está a diminuir, e, segundo eles, a razão é o estilo de vida das gerações mais jovens que é diferente do estilo de vida dos antigos centenários. Eu realmente espero que eles estejam errados e a Blue Zone continue a existir.
Silvia Triboni – Espero que sim também, Professor! E falando sobre o atual estilo de vida das pessoas idosas de hoje em dia, gostaria de saber se eles são influenciados pela tecnologia, e uso de redes sociais? Se sim, isto é positivo, ou não, para a longevidade.
Professor Gianni Pes: Eu diria que em geral na Sardegna as pessoas mais idosas são capazes de usar a tecnologia mas de uma forma bem simples. Muitos deles são capazes de usar o celular ou, em alguns casos e raramente usam o computador.
Os centenários de 20 anos atrás viviam em um ambiente cultural completamente diferente. Eles eram às vezes pobres pastores, ou fazendeiros, e representavam uma cultura que está praticamente desaparecendo. Não eram familiarizados com a tecnologia, mas agora a situação mudou, por exemplo, a maioria deles tem um celular e podem ligar para os parentes.
O turismo em massa nas Blue Zones
Silvia Triboni: As Blues Zones se tornaram mundialmente famosas, a atraírem um grande número de turistas ansiosos por conhecerem, de perto, a receita da longevidade. O turismo é mau, ou não, para o ecossistema das Blue Zones?
Professor Gianni Pes: Eu realmente penso que é perigoso. Temos testemunhado uma espécie de turismo em massa nas Blue Zones. Infelizmente, e provavelmente, devido ao nosso trabalho muitas pessoas querem visitar todas as Blue Zones.
Silvia Triboni – Professor, eu soube que a Blue Zone de Okinawa está sofrendo pelo turismo em massa. É verdade?
Professor Gianni Pes – Entre as Blue Zones, provavelmente em Okinawa o nível de longevidade está decrescendo. Não especificamente por causa do turismo, mas pelo fato de que a geração mais jovem não segue mais a tradição dos mais velhos, especialmente quanto à dieta. Seguem a dieta ocidental e esquecem a tradicional dieta de Okinawa rica em alimentos do mar e em vegetais. Passaram, provavelmente, de uma dieta baseada em vegetais para uma dieta com mais carne e gordura.
Novas Blue Zones?
Silvia Triboni: Professor, o senhor já ouviu falar de Veranópolis, uma cidade no Brasil age-friendly e com alto índice de longevidade?
Professor Gianni Pes – Sim. Estou feliz por saber que há cidades que podem se candidatar a serem Blue Zones. Ainda que sejam não oficiais, podem vir a ser desde que possam comprovar cientificamente as condições de longevidade.
Um ponto muito interessante, é que há governos, como o exemplo de Singapura, que decidiu seguir, o que podemos chamar, a filosofia das Blue Zones.
O governo de Singapura, na Ásia, decidiu contar com nosso trabalho sobre as Blue Zones para modificar, ou tentar modificar, o estilo de vida de pessoas idosas, por exemplo ajudando-os a ter um contato mais próximo com a geração mais jovem, criando, por exemplo, casas onde avós e netos vivem juntos. Isso é emocionalmente muito importante. Esse intercâmbio entre as gerações é realmente uma das coisas mais importantes para se envelhecer graciosamente.
Qual é a receita de longevidade dos centenários da Sardegna?
Silvia Triboni: O senhor afirma que a genética não é o fator determinante para a especial longevidade do povo da Sardegna. Quais são os fatores mais importantes para este fenômeno? Qual é a receita de vida longa dos centenários da Sardegna?
Professor Gianni Pes: Primeiramente, devo dizer honestamente que não podemos mais seguir a vida dos anciãos sardos porque eles viviam em uma era completamente diferente da atual.
Não podemos viver como os pastores sardos, por exemplo. Estamos vivendo em uma sociedade moderna e rápida. Então, a única coisa que podemos aprender com a zona azul da Sardenha é tentar pegar alguns aspectos específicos de suas vidas, como, por exemplo, o da atividade física.
Não precisamos ir para as montanhas como os pastores da Sardenha que caminhavam 30 quilômetros por dia. Isso foi algo excepcional mesmo naquele tempo. Nós não podemos fazer isso em nossas vidas cotidianas, mas podemos tentar aumentar a nossa atividade física e principalmente a atividade física aeróbica em espaços abertos.
Outra coisa que nós podemos tentar modificar é a nossa dieta. Diminuir a quantidade de gorduras e açúcares que comemos todos os dias, tentando comer mais frutas e vegetais como faziam os velhos sardos.
Podemos também tentar melhorar o nosso relacionamento com as outras pessoas e familiares. Em grandes cidades os parentes são negligenciados, não são cuidados, então isso deveria mudar se quisermos viver, não digo necessariamente até os 100 anos, mas, pelo menos, para envelhecermos sem doenças. O que é importante não é viver mais, mas sem doenças. Este é o esforço que devemos fazer.
Silvia Triboni – Parar de consumir o leite de vaca e reduzir o consumo da carne, como fazem os longevos da Sardenha, pode ser um bom começo?
Professor Gianni Pes – Reduzir o consumo da carne é importante. Entre os anciãos da Sardenha a carne era consumida apenas uma ou duas vezes por mês.
Eles comiam muito queijo mas não do leite de vacas, mas de ovelha ou cabra. A qualidade do queijo e do leite são completamente diferentes. Isso significa que são proteínas animais que podem ser consumidas especialmente após uma certa idade, porque você sabe que tendemos a perder músculos com a idade, e aumentar o consumo de proteínas de origem animal é bom, mas não de carne. Proteínas animais como leite, queijo ou ovos que não são tão perigosos.
Há preconceito etário na Sardenha?
Silvia Triboni – Atualmente há um grande debate sobre o preconceito etário. Gostaria de saber o seu ponto de vista sobre o etarismo, na Itália, e, especificamente na Sardenha. Há etarismo naquela Blue Zone?
Professor Gianni Pes – Não na Sardenha, mas sim em outras regiões da Itália.
Este tipo de discriminação está aumentando porque a geração mais jovem as vezes não está disponível para cuidar de pessoas idosas.
O preconceito de idade na Blue Zone é quase ausente pois os longevos ali são muito respeitados pelos jovens. A população tem orgulho de ter estes centenários. Eles representam o símbolo da força de toda a população. Mas eu não posso excluir isso no futuro, que esta atitude atual desapareça. Ninguém sabe. Temos que esperar para ver se algo vai realmente mudar.
Silvia Triboni – Suas palavras são muito importantes e vou compartilhá-las muito entre brasileiros e portugueses, pois precisamos saber que hoje, na Blue Zone Sardegna o etarismo não existe.
Terminando a nossa conversa, peço-lhe as suas palavras finais para os meus amigos e leitores brasileiros e portugueses, os quais certamente terão muito orgulhoso de poder aprender com os seus conselhos.
Professor Gianni Pes: Eu diria que o melhor conselho é o seguinte:
tente amar as pessoas que vivem ao seu lado. É o melhor conselho. Não para ter uma vida longa, mas para envelhecer graciosamente.
Assista o vídeo da entrevistarealizada em Cagliari, Sardenha, Itália, no dia 16.10.2021:
O Instituto Lado a Lado pela Vida (LAL) e a Veja Saúde, com o apoio da Novartis, lançaram recentemente o estudo “Cuidadores do Brasil”. Entre os destaques, estão que seis em cada dez participantes do estudo têm pelo menos 50 anos – e 27% deles tem 60 anos ou mais. E mais: 90% dos entrevistados tiveram que assumir o papel de cuidador por ser o parente mais próximo e não dispor de condições financeiras para contratar um profissional. Além disso, neste universo, as mulheres são a maioria: dos cuidadores familiares, são 83%; entre os profissionais, 91%.
Entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, foi realizada uma pesquisa quantitativa online que trouxe as percepções e realidades de 2.534 cuidadores (2.047 familiares e 487 profissionais) de todas as regiões do país. Outra informação impactante do estudo é que 80% desses cuidadores familiares não têm cursos na área da saúde e 83% de todos os entrevistados não são remunerados pelo trabalho que exercem. O objetivo da amostra é elucidar sobre os anseios e necessidades desses cuidadores.
Sobre o impacto na saúde emocional e física desses cuidadores, o total de 48% sofre com estresse e um em cada cinco com insônia. Também são comuns relatos de dores e lesões por esforço repetitivo (LER), o que nos convoca a pensar na prevenção de doenças ocupacionais.
Decisões
Entre os cuidadores familiares, 96% participam das decisões relacionadas ao bem-estar do paciente e 88% estão ao seu lado nas consultas médicas. Entre os profissionais, 82% se fazem presentes nas consultas. Nessa linha, 95% afirmam seguir à risca a maioria das recomendações médicas e 74% incentivam o paciente a se manter ativo. O médico representa a principal fonte de informação para os cuidadores e cinco em cada dez entrevistados só têm contato com ele nas consultas presenciais.
A combinação de arroz e feijão é muito importante em qualquer fase da vida, especialmente para a população idosa. E o cuidado com as pessoas com 60 anos ou mais é o foco da nova edição do Protocolo de Uso do Guia Alimentar para a População Brasileira na Orientação Alimentar da Pessoa Idosa do Ministério da Saúde. A publicação é voltada a profissionais que atuam na Atenção Primária à Saúde (APS).
A recomendação número um do protocolo é que os profissionais estimulem o consumo diário de arroz e feijão, prato típico dos brasileiros, preferencialmente no almoço e no jantar. O feijão é rico em fibras, proteínas e diversas vitaminas e minerais, que previnem carências nutricionais e distúrbios gastrointestinais, problemas comuns entre os mais idosos. Além disso, ao contrário do que o senso comum afirma, a combinação do arroz com feijão faz parte de padrões alimentares associados a menor ocorrência de obesidade e outras doenças crônicas não transmissíveis.
O guia também traz orientações sobre tempo de cozimento para facilitar a digestão do feijão, além de opções de substituição de ingredientes, diminuindo o tempo e facilitando o preparo. O cuidado com a quantidade de sal e gorduras e de temperos industrializados é um dos alertas presentes na publicação.
Em caso de dificuldade de mastigação, é importante que se aumente o tempo de cozimento do arroz e do feijão para ficarem mais macios. A inclusão de verduras e legumes no feijão vai deixá-lo ainda mais saboroso e nutritivo.
Consumo de frutas, legumes e verduras
Dentre as recomendações do protocolo, está a inclusão dos legumes em saladas cruas e em preparações quentes, como cozidos, refogados, assados, gratinados, empanados e ensopados. Também é possível incluir verduras e legumes em preparações culinárias, como omelete com legumes, arroz com legumes, feijão, bolinho de espinafre e tortas. Saiba mais no guia completo.
“Sou totalmente apologista da partilha de conhecimentos e de boas práticas”, afirma José Carreira, mestre em Trabalho Social, com pós-graduação em Direito do Envelhecimento, que representa o Movimento #StopIdadismo em Portugal., Ele considera que os ganhos podem ser substanciais se a ponte digital entre Brasil e Portugal for bem aproveitada, “potencializando as oportunidades e combatendo as adversidades”.
Carreira é um dos convidados do I Seminário Internacional sobre longevidade: Brasil e Portugal – Desafios e Oportunidades, que será realizado pela Longevida – Consultoria na Area do Envelhecimento e coordenado por Sandra Regina Gomes, fundadora e diretora da Longevida. O evento, que vai ocorrer no próximo dia 28 de setembro, virtualmente, abordará a Política Nacional do Idoso, a rede de atendimento à população idosa no Brasil, os Conselhos de direitos da pessoa idosa, o Fundo Nacional do Idoso e experiências de Portugal no atendimento à população idosa.
Além de José Carreira, o Seminário contará com a honrosa participação de Alexandre Kalache, referência internacional em envelhecimento e longevidade e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR). Os participantes terão, ainda, a oportunidade de assistir a duas palestras, com Sandra Regina Gomes e com a assistente social Daniela Reis.
Entrevista exclusiva
Em entrevista concedida exclusivamente ao site da Longevida, José Carreira fala sobre os desafios enfrentados por Portugal na proteção da pessoa idosa, citando alguns exemplos bem sucedidos nesta direção; sobre o Movimento #StopIdadismo em seu país; e sobre a importância da parceria entre Brasil e Portugal nas ações de valorização da pessoa idosa. Confira a entrevista na íntegra.
Quais são os principais desafios hoje no atendimento e proteção à pessoa idosa em Portugal?
A minha utopia pós-pandemia, passa pela construção de uma Cidadania Social, ancorada numa Economia do Cuidado. Olhar a velhice de frente reflete a dignidade de uma sociedade madura e humanizada que acompanha os seus até ao fim. Todos nós queremos ser acompanhados, cuidados, amados. Uma das reflexões que considero prioritária centra-se nos modelos de cuidados que queremos para o futuro, cuidados humanizados, centrados na pessoa e mais integrativos. Creio que fará sentido priorizar a desinstitucionalização dos cuidados e apostar num novo conceito de cuidados no domicílio, com a disponibilização de apoio sociais, da saúde e tecnologias de apoio, monitorizados por equipas multidisciplinares. Muitos países europeus já apostaram, há muitos anos, noutras respostas sociais e sanitárias. Devemos estudar outros modelos de prestação de cuidados no domicílio, devidamente adaptados ao nosso contexto social e econômico, e (re)construir uma política da longevidade.
O senhor poderia dar dois exemplos de políticas existentes hoje em Portugal para o atendimento à população idosa que considera acertadas e importantes?
Não nos esqueçamos que, em 2018, o risco de pobreza entre os mais velhos era de 17,3% contabilizando as transferências sociais e 88,8% sem as mesmas. Dois exemplos:
– Complemento solidário para idosos – Um apoio em dinheiro pago mensalmente aos idosos de baixos recursos, com idade igual ou superior à idade normal de acesso à pensão de velhice do regime geral de Segurança Social, ou seja, 66 anos e 6 meses e residentes em Portugal.
– Pensão Social de Velhice – É uma prestação em dinheiro, atribuída mensalmente, a partir da idade normal de acesso à pensão de velhice do regime geral de segurança social
Quais são principais ações feitas hoje pelo #Stop Idadismo no combate ao preconceito contra a pessoa idosa?
O Movimento #StopIdadismo tem como objetivo sensibilizar, identificar e eliminar os preconceitos e a marginalização das pessoas idosas devido à idade. Organizamos e participamos em iniciativas para visibilizar aquela que é a terceira causa de discriminação no mundo: o idadismo, seguindo-se ao racismo e ao sexismo. As campanhas estão em estreita articulação com a Campanha Mundial Contra o Idadismo da ONU “#AWorld4AllAges” e a Década do Envelhecimento Saudável 2020-2030, principal estratégia da Organização Mundial da Saúde (OMS) para apoiar ações de construção de uma sociedade para todas as idades, baseada na Estratégia Global da OMS sobre Envelhecimento e Saúde, no Plano de Ação Internacional das Nações Unidas para o Envelhecimento e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda das Nações Unidas 2030. Destaco as seguintes iniciativas: Campanha “Sinais de Alerta: Alzheimer e outras demências”; “#VelhiceNaoEDoenca”; “Consciencialização da violência contra a pessoa idosa”.
Qual é a importância de uma parceria com o Brasil para a pessoa idosa?
Sou totalmente apologista da partilha de conhecimentos e de boas práticas. No âmbito da longevidade, da “nova longevidade”, temos um longo caminho para percorrer na construção de uma comunidade inclusiva, amiga de todas as idades. Os ganhos serão substanciais se aproveitarmos a “ponte digital” que permite facilitar a união dos dois países – Portugal e Brasil – com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas, potencializando as oportunidades e combatendo as adversidades.
SERVIÇO
As inscrições para o seminário continuam abertas. Veja como participar no site da Longevida: https://www.longevida.ong.br/
Um estudo divulgado recentemente mostrou que os idosos negros na cidade de São Paulo apresentam piores condições de escolaridade, renda, hipertensão arterial e menos acesso a serviços privados de saúde em relação aos brancos. Na pesquisa conduzida pelo doutor em epidemiologia Roudom Ferreira Moura, os idosos negros também avaliaram sua saúde de forma pior: 45,5 % dos idosos pardos e 47,2% dos idosos pretos descreveram seu estado de saúde negativamente (regular, ruim ou muito ruim), enquanto nos idosos brancos esse número foi de 33%.
O trabalho consistiu em uma análise estatística que buscou entender a relação entre condições sociais e de saúde e variáveis demográficas, socioeconômicas e comportamentais e o uso e o acesso a serviços de saúde associados com cor da pele/raça autodeclarada. Foram avaliados 1.017 idosos do município de São Paulo (63,3% brancos, 21,4% pardos e 7,3% pretos/negros), a partir de dados coletados pelo Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital-SP-2015), da Secretaria da Saúde da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Apesar de a maioria da população brasileira ser negra, de acordo com o pesquisador, esse recorte demográfico é minoria entre os idosos, pois a expectativa de vida dos negros é pior que a dos brancos. Segundo Moura, as desigualdades raciais na saúde são um tema historicamente negligenciado na academia brasileira. Até 1996, por exemplo, 87% dos registros de óbitos do Estado de São Paulo sequer tinham indicação de qual era a cor da pele / raça dos indivíduos.
Para o pesquisador, o racismo é uma questão bastante controversa no Brasil, onde a influência de ideias como a teoria da democracia racial, muito difundida por autores como Gilberto Freyre, ainda dificulta o reconhecimento da existência desse problema social. Algo que aparece, inclusive, na resistência de algumas publicações a aceitar artigos pautando esse tema, embora seja inegável a importância de investigar essas desigualdades para a aplicação de políticas de saúde pública de qualidade.
Identificar os fatores determinantes sociais e de saúde da população idosa do município de São Paulo sob uma perspectiva racial foi o objetivo da tese de doutorado de Moura, intitulada Idosos brancos e negros da Cidade de São Paulo: desigualdades das condições sociais e de saúde, orientada pelo professor José Leopoldo Ferreira Antunes, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.
O pesquisador afirma que esses indicadores se explicam por condições de racismo estrutural e institucional que se iniciaram, provavelmente, ainda na infância desses indivíduos negros e os afetaram negativamente quanto às questões de desenvolvimento e envelhecimento, classe social, nível de escolaridade, condições e tipos de trabalho, renda, acesso e uso de bens e serviços e condições de saúde.
Dos 17,3 milhões de pessoas com deficiência no país em 2019, quase metade (49,4%) era idosa, ou seja, tinham 60 anos ou mais de idade. Considerando a população total por grupos etários, um a cada quatro idosos (24,8%) tinha algum tipo de deficiência. Os dados são da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019 – Ciclos de vida, divulgada no dia 26 de agosto pelo IBGE.
A deficiência visual teve o maior percentual nessa faixa de idade: 9,2% dos idosos declararam ter muita dificuldade ou não conseguiam de modo algum enxergar. A quantidade de pessoas com deficiência auditiva também aumenta conforme o avançar da idade: cerca de 1,5 milhão de pessoas com deficiência auditiva tinha mais de 60 anos. Isso equivale a 4,3% dos idosos.
O uso de algum recurso para ouvir melhor, como aparelho auditivo e implante coclear, de acordo com o levantamento, era feito por 0,8% da população acima de dois anos, independentemente de ter alguma deficiência ou do grau de dificuldade das pessoas. Entre os idosos, o percentual foi de 3,1%.
A pesquisa também estimou em 3,3 milhões o número de idosos com alguma limitação funcional para realizar Atividades de Vida Diária (AVD), como trocar de roupa, alimentar-se e higienizar-se. Esse contingente corresponde a 9,5% das pessoas nessa faixa etária. A proporção também aumenta à medida que a idade avança, chegando a 18,5% entre as pessoas com mais de 75 anos.
O envelhecimento da população é um fenômeno global e, no Brasil, especialmente acentuado nos últimos 20 anos, tendendo a acelerar ainda mais nas próximas décadas. Atualmente, as mais de 34 milhões de pessoas acima dos 60 anos são responsáveis por 23% do consumo de bens e serviços no país, contribuindo assim, com seus recursos, para o crescimento da sociedade em geral. Estima-se que em 2040, 57% da força de trabalho brasileira terá mais de 45 anos, conforme aponta pesquisa da consultoria da PWC com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A Organização Mundial da Saúde (OMS) – com o reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU) – estabeleceu em sua resolução de dezembro de 2020 a Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030), em consonância com o protagonismo, dinamismo e a importância dos mais velhos mundo afora.
No entanto, a Assembleia Mundial de Saúde, órgão de governança que estrutura e apresenta as ações a serem cumpridas pelas OMS, prevê instituir a velhice como doença, na Classificação Internacional de Doenças, em sua edição de número 11 – CID 11, a partir de 01 de janeiro de 2022, numa clara incoerência à realidade demonstrada até aqui através de seu trabalho na área.
A inclusão da velhice como doença na CID-11 representa a migração de um marcador social (com todas as subjetividades culturais, sociológicas e antropológicas das populações mundiais) para o âmbito de um mecanismo que padroniza enfermidades – o que não contempla a diversidade e as identidades das sociedades e suas construções sociais, econômicas e culturais.
A velhice é uma das etapas de nosso curso de vida e não pode correr o risco de ser interpretada como doença, e sim como a maior conquista social dos últimos 100 anos. Considerar a etapa da velhice como doença é um retrocesso que em muito contribuiria para acentuar globalmente preconceitos em relação à longevidade – o que denominamos idadismo, traduzidos em estigmas que marcam profundamente a saúde emocional e psicossocial das pessoas idosas.
A promoção do envelhecimento deve vir com oportunidades de protagonismo, numa sociedade em que os mais velhos sejam respeitados e valorizados por suas potencialidades como sujeitos de direitos. Lembrando sempre que os jovens de hoje serão os idosos de amanhã – portanto, esta é uma causa de todos.
Um grupo de entidades e representantes da sociedade civil se uniram e criaram o Movimento “Velhice não é Doença”. O coletivo lançou um manifesto aberto a todas as pessoas, empresas, entidades e movimentos sociais que queiram assiná-lo e conta com mais de 3200 assinaturas. O objetivo do movimento é pressionar os deputados, senadores e o governo federal para que cobrem que a OMS reveja a classificação que considera velhice uma doença.
O documento é subscrito pelas seguintes autoridades e personalidades:
Alexandre Kalache – Centro Internacional da Longevidade – ILC Brasil
Danilo Santos de Miranda – Diretor do SESC-SP
Lucia Secoti – Ex Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa – CNDI
João Batista Lima Filho – Comissão de Bioética – CNBB
César Eduardo Fernandes – Presidente da Associação Médica Brasileira – AMB
Patrícia Sereno – Programa Até os 120 – Federação Israelita do Estado de São Paulo
Maria Regina Ermírio de Moraes – Instituto Velho Amigo
João Batista de Andrade – Cineasta e Escritor
Sandra Gomes – Longevida Consultoria
Ivete Berkenbrock – Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG
Gilberto Natalini – Associação Popular de Saúde
Maria Lucia Rodrigues – Coordenadora Nacional da Pastoral da Pessoa Idosa – PPI
Luiz Roberto Ramos – Escola Paulista de Medicina – EPM
Meiry Fernanda Pinto Okuno – Escola Paulista de Enfermagem /UNIFESP
Tomas Freund – Conselho Estadual do Idoso de São Paulo
Neide Duque – Grande Conselho Municipal do Idoso de São Paulo
Joel Padula – Superintendente SESC-SP
Cris Monteiro- Vereadora da cidade de São Paulo
Carlota Esteves – CEO do Movimento Longevidade Brasil
Yeda Aparecida de Oliveira Duarte – Estudo SABE/ Saúde, Bem Estar e Envelhecimento/ O que Rola na Geronto
Karen Garcia de Farias – Sessentônica
Marta Fontenele – Jornalista e Pesquisadora do Envelhecimento
Wagner Romão – Cientista Político/UNICAMP
Lina Menezes – Faz Muito Bem 50+ e Tudo Sobre Alzheimer
Beltrina Corte – Portal do Envelhecimento e Espaço Longeviver
Eduardo Jorge – Médico Sanitarista e Ambientalista
Associação Nacional dos Membros do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência – AMPID
Confederação Brasileira dos Aposentados – COBAP
Luis Eduardo Merces – Itaú Viver Mais
Vanessa Idargo Mutchnik- Comitê 60+ Grupo Mulheres do Brasil
Letícia Bittar- OAB Pará
Morris Litvak- Maturi
Eva Bettine e Camila Tiome Baba- Associação Brasileira de Gerontologia- ABG
Silvia Triboni- Across Seven Seas
Ida Nuñez- Adulto+/Inova360/ Record News
Diego Felix Miguel- Convita
Eduardo Meyer- Coletivo Trabalho 60+
Vera Caovilla- 50 mais Ativo
Áurea Soares Barroso- Pastoral da Pessoa Idosa
Dayane Alves- Instituto Família Barrichello
Carla Santana – Sociedade Brasileira de Gerontecnologia
Vera Caovilla- 50 mais Ativo
Luís Baron- Eternamente Sou
Luciana Feldman- Publicitária e Pós Graduanda em Gerontologia