Idosos negros - pesquisa

Estudo em São Paulo aponta que saúde de idosos negros é pior

Jornal da USP / Imagem de Leroy Skalstad por Pixabay 

Um estudo divulgado recentemente mostrou que os idosos negros na cidade de São Paulo apresentam piores condições de escolaridade, renda, hipertensão arterial e menos acesso a serviços privados de saúde em relação aos brancos. Na pesquisa conduzida pelo doutor em epidemiologia Roudom Ferreira Moura, os idosos negros também avaliaram sua saúde de forma pior: 45,5 % dos idosos pardos e 47,2% dos idosos pretos descreveram seu estado de saúde negativamente (regular, ruim ou muito ruim), enquanto nos idosos brancos esse número foi de 33%.

O trabalho consistiu em uma análise estatística que buscou entender a relação entre condições sociais e de saúde e variáveis demográficas, socioeconômicas e comportamentais e o uso e o acesso a serviços de saúde associados com cor da pele/raça autodeclarada. Foram avaliados 1.017 idosos do município de São Paulo (63,3% brancos, 21,4% pardos e 7,3% pretos/negros), a partir de dados coletados pelo Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital-SP-2015), da Secretaria da Saúde da Prefeitura Municipal de São Paulo.

Apesar de a maioria da população brasileira ser negra, de acordo com o pesquisador, esse recorte demográfico é minoria entre os idosos, pois a expectativa de vida dos negros é pior que a dos brancos. Segundo Moura, as desigualdades raciais na saúde são um tema historicamente negligenciado na academia brasileira. Até 1996, por exemplo, 87% dos registros de óbitos do Estado de São Paulo sequer tinham indicação de qual era a cor da pele / raça dos indivíduos.

Para o pesquisador, o racismo é uma questão bastante controversa no Brasil, onde a influência de ideias como a teoria da democracia racial, muito difundida por autores como Gilberto Freyre, ainda dificulta o reconhecimento da existência desse problema social. Algo que aparece, inclusive, na resistência de algumas publicações a aceitar artigos pautando esse tema, embora seja inegável a importância de investigar essas desigualdades para a aplicação de políticas de saúde pública de qualidade.

Identificar os fatores determinantes sociais e de saúde da população idosa do município de São Paulo sob uma perspectiva racial foi o objetivo da tese de doutorado de Moura, intitulada Idosos brancos e negros da Cidade de São Paulo: desigualdades das condições sociais e de saúde, orientada pelo professor José Leopoldo Ferreira Antunes, do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP.

O pesquisador afirma que esses indicadores se explicam por condições de racismo estrutural e institucional que se iniciaram, provavelmente, ainda na infância desses indivíduos negros e os afetaram negativamente quanto às questões de desenvolvimento e envelhecimento, classe social, nível de escolaridade, condições e tipos de trabalho, renda, acesso e uso de bens e serviços e condições de saúde.

Across Podcast

Across Podcast recebe Sandra Regina Gomes

No episódio do Across Podcast sobre longevidade e muito mais, Silvia Triboni conversa com Sandra Regina Gomes, diretora e fundadora da Longevida, sobre Políticas públicas efetivas para a pessoa idosa. Profissional dedicada à defesa, à criação e ao exercício de direitos pelas pessoas idosas, Sandra é fonoaudióloga, formada pela PUC-SP, titulada especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) em mestre em Gestão e Políticas Públicas na Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Sandra tem atuado na elaboração e concretização das mais atuais e necessárias leis e regulamentos de proteção e valorização da pessoa idosa. Ouça o episódio e compartilhe, pois, como disse Silvia Triboni e a equipe Longevida concorda, conhecer Sandra Regina Gomes é aprender sobre como se faz, e como se põe em prática políticas públicas positivas. O bate-papo também está disponível no canal do YouTube Across Seven Seas.